domingo, 3 de agosto de 2008

CRER OU NÃO CRER, EIS A QUESTÃO

"Certo dia eu conheci um homem.

Ele a todos sorria e falava sempre com alegria.

Era agradável e afável, simpático e amigo.

Porém um dia emiti uma opinião acerca de algo que discordava da opinião dele.

Era algo tolo, assim como o melhor modelo de carro, o melhor time de futebol ou ainda qual seria a melhor hora para encerrar o expediente de um botequim.

Porém isso foi o bastante para que ele me fulminasse com o olhar e usasse de palavras duras e grosseiras para defender suas idéias.

Bom, assim meio que acabrunhado pedi desculpas e disse que muito pouco sabia daquelas coisas e que minha opinião nada valia.

Logo aquele assunto acabou por encerrar-se num silêncio abafado e mudo.

Certo dia eu conheci um homem.

Em nosso primeiro encontro ele falou-me entusiasmado de suas crenças.

Falou-me de sua fé e seu credo.

Seu tom de voz era tão vibrante que me pus a observá-lo e pensei: “Esse homem realmente parece que sabe o que quer”.

Os dias se passaram e por muitas e muitas vezes voltei a estar com este homem e assim pude conhecê-lo melhor.

Porém chamou-me a atenção que toda sua crença desmoronava quando o assunto era sexo.

Ah, para ele todas as coisas eram sagradas, menos isso!

Todas as mulheres eram objetos para seu uso pessoal.

Quando o assunto era mulher, tudo era permitido: a pornografia, a obscenidade, o desrespeito, a vaidade e o desprezo por todas as mulheres que havia tido eram algo comum em seu discurso.

E assim, aos poucos, minha boca parou de lhe dirigir a palavra e meus ouvidos cessaram de lhe dar atenção.

Certo dia eu conheci um homem.

Ele era sublime, perfeito, nobre e bondoso em tudo que dizia e escrevia.

Falava-nos de seus sonhos e planos sagrados.

Suas palavras eram guias de homens e mulheres.

Suas mãos pareciam santas e seus menores desejos eram impossíveis de serem negados.

Porém chamou-me a atenção que suas ações não corroboravam o que ele dizia.

Ele falava em doçura e era áspero.

Falava em bondade e era duro de coração.

Falava em santidade e castidade e, no entanto, manipulava e seduzia em segredo.

E assim o que era lúcido e cristalino tornou-se opaco e embaçado.

Fomos acordados de um sonho lindo para descobrir que tínhamos vivido um pesadelo.

E eu fiquei pensando e pensando... refletindo e refletindo...

Um dia chequei a conclusão que de todas as coisas mais importantes que o ser humano tem, a que ele mais teme perder são as suas CRENÇAS.

Um homem pode transformar-se em uma besta quando suas crenças são ameaçadas.

Um santo pode ver sua humanidade cruamente retornar quando suas crenças são atacadas.

Ameaçar a crença de um homem é como ameaçar sua vida, seus alicerces, seus mais profundos sonhos, seu tudo.

Logo, depois de muito refletir olhei para mim mesmo e falei: “Ora, eu também tenho as minhas crenças. Onde elas estão?”

Assim, por dias, meses e anos a fio passei a procurá-las, persegui-las, estudá-las e dissecá-las. Quando então pude conhecê-las em número razoável, já convencido de que elas nada valiam, comecei por exterminá-las uma a uma.

Livre de muitas das crenças que haviam norteado minha vida até aquele presente momento, compreendi quão nefasto elas haviam sido para mim. Quão prisioneiro de mim mesmo havia me tornando. Quão escravo de meus sonhos e ideais eu era.

Por isso bendito amigo que lê minhas palavras, digo-te com meu coração: Não creia em nada e creia em tudo. Não creia em ninguém e creia em todos.

Não! Isso não é um paradoxo! Creia na possibilidade. Creia na semente. Creia no impossível que pode nascer do possível. Creia na raiz, creia no que está por vir. Creia, ainda sim, que em tudo e em todos há algo a ser extraído de puro e belo. Creia que do mal pode nascer o bem e que do bem pode nascer o mal. Creia que do feio pode nascer o belo. Creia que do impuro e imperfeito pode nascer o puro e perfeito. Creia nos seres sagrados, na caminhada que fizeram e em suas mensagens que tornaram menos duro o mundo no qual vivemos.

Porém, não creia nas palavras vazias desprovidas de fatos. Não creia nos discursos inflamados dos grandes líderes, que cheios dos grandes planos são incapazes de respeitar e amar o pequeno e insignificante. Não creia naqueles que falam de amor, porém desconhecem o carinho, a ternura e a tolerância. Não creia em doutrinas espirituais, em instrutores ou mestres, porque nenhum deles poderá dar-te o conhecimento sagrado a não ser que tu mesmo o construas.

Por fim, caro e bendito amigo que lê essas palavras de alguém insignificante e imperfeito. Aqui, mais do que nunca, vale a velha fórmula: creia em teu coração, creia em tua consciência, creia na voz silenciosa que te guia. Creia na verdade e nos corações puros. Creia na força da humildade. Creia na possibilidade da redenção. Creia no infinito que a tudo permeia e na possibilidade de se construir o CAMINHO SAGRADO, teu próprio CAMINHO que a mais ninguém pertence e que a mais ninguém pode ser útil."

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

As consequências da riqueza mundana

Em Savatthi, sentado a um lado, o Rei Pasenadi de Kosala disse para o Abençoado Budha:

“Agora mesmo, venerável senhor, enquanto eu estava só em isolamento, o seguinte pensamento surgiu na minha mente: ‘Poucas são aquelas pessoas no mundo que, ao obterem muita riqueza, não se tornam embriagadas e negligentes, que sem ceder à cobiça pelos prazeres sensuais não tratam mal os outros seres. Em muito maior número são aquelas pessoas no mundo, que ao obterem muita riqueza, se tornam embriagadas e negligentes, cedem à cobiça pelos prazeres sensuais e tratam mal os outros seres.’”

“Assim é, grande rei! Assim é!”

O Budha em seguida repete aquilo que o Rei Pasenadi disse e adiciona o seguinte verso:

“Enamorados pelos prazeres e riqueza,
cobiçosos, deslumbrados pelos prazeres sensuais,
eles não se dão conta que foram longe demais
como o gamo que cai na armadilha.
Mais tarde o fruto amargo será deles,
pois deveras ruim é o resultado.”